quarta-feira, 30 de abril de 2014

RANÚSIA ALVES RODRIGUES (1945 - 1973) [1]



Ranúsia e outros três militantes do PCBR [2] (Almir Custódio de Lima, Ramires Maranhão do Valle e Vitorino Alves Moitinho) foram mortos pelos órgãos de segurança do regime militar em 27 de outubro de 1973, no Rio de Janeiro. A cena para a legalização das execuções foi montada na praça Sentinela, em Jacarepaguá. Ramires, Almir e Vitorino aparecem totalmente carbonizados dentro de um Volkswagen, enquanto o corpo de Ranúsia jaz baleado, embora não queimado. Os documentos oficiais dos arquivos dos Ministérios do Exército, Marinha e Aeronáutica mostram versões desencontradas de tal acontecimento. Alguns fatos só começaram a ser esclarecidos com a abertura dos arquivos secretos do Dops, no Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco.
Em 29 de outubro de 1973, a imprensa carioca apenas noticiou a morte de dois casais em Jacarepaguá. O Jornal do Brasil estampou a manchete “Polícia especula, mas nada sabe ainda sobre os casais executados em Jacarepaguá”, enquanto O Globo noticiou: “Metralhados dois casais em Jacarepaguá”. Nenhum dos jornais citou os nomes dos mortos. O mesmo ocorreu na matéria da revista Veja, de 7 de novembro, intitulada “Quem matou quem?”. Somente em 17 de novembro, tanto em O Globo quanto no Jornal do Brasil – respectivamente, sob os títulos “Terroristas morrem em tiroteio com as forças de segurança” e “Terroristas são mortos em tiroteio”, é que se lê: “[...] em encontro com forças de segurança, vieram a falecer, após travarem cerrado tiroteio, quatro terroristas, dois dos quais identificados como Ranúsia Alves Rodrigues, ‘Florinda’, e Almir Custódio de Lima, ‘Otávio’, pertencentes à organização clandestina subversiva intitulada PCBR”. Os nomes de Vitorino e Ramires não foram citados nas matérias e, como consequência, esses dois militantes passaram a figurar nas listas de desaparecidos políticos.
No livro Dos filhos deste solo, Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio assim registraram o episódio:

Chovia na noite de 27 de outubro de 1973, um sábado. Alguns poucos casais escondiam-se da chuva junto do muro do Colégio de Jacarepaguá, no Rio. Por volta das 22 horas, um homem desceu de um Opala e avisou: “Afastem-se porque a barra vai pesar”. O repórter de Veja (7/11/1973) localizou alguém que testemunhou o significado desse aviso: “Não ouvimos um gemido, só os tiros, o estrondo e a correria dos carros”. [...] Vindos de todas as ruas que levam à praça, oito ou nove carros foram chegando, cercando um fusca vermelho de placa AA 6960 e despejando tiros. Depois jogaram uma bomba dentro do carro. No final, havia uma mulher morta com quatro tiros no rosto e peito e três homens carbonizados. 

Essa mulher era Ranúsia Alves Rodrigues, pernambucana de Garanhuns e estudante de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco. Já havia sido presa uma vez, em Ibiúna (SP), em 1968, quando participava do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em consequência disso, foi expulsa da universidade pelo Decreto 477, no ano seguinte. 
Vivendo na clandestinidade como militante do PCBR, Ranúsia teve uma filha, chamada Vanúsia. Em outubro de 1972, passou a atuar no Rio de Janeiro. Documentos dos órgãos de segurança do regime militar sustentavam que, em 25 de fevereiro de 1973, ela teria participado da execução do delegado Octávio Gonçalves Moreira Júnior, do DOI-Codi/SP, em Copacabana.
Sua foto e seu nome tinham sido divulgados, erroneamente, como uma das pessoas mortas na chamada Chacina de Quintino, em 29 de março de 1972, no lugar de Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo.
Apesar de os quatro militantes estarem perfeitamente identificados, os órgãos de segurança omitiram as mortes de Ramires e Vitorino e enterraram todos sem identificação, como indigentes, no cemitério Ricardo de Albuquerque, no Rio de Janeiro. Em 2 de abril de 1979,
seus restos mortais foram transferidos para o ossuário geral e, por volta de 1980 ou 1981, para uma vala clandestina com cerca de 2 mil outras ossadas.
No arquivo do Dops/RJ, foi encontrado um documento do I Exército, de 29 de outubro de 1973, que narra o cerco aos quatro militantes desde o dia 8 do mesmo mês, culminando com a prisão de Ranúsia na manhã do dia 27. O documento inclui o interrogatório e as declarações da militante no DOI-Codi/RJ.
O relatório fala, ainda, de farta documentação encontrada com ela, e menciona a morte dos quatro militantes, dando-lhes os nomes completos. A versão divulgada pelo Dops é que os militantes do PCBR perceberam a presença de “elementos suspeitos” e tentaram fugir, acionando suas armas. Como o carro teria começado a pegar fogo, não foi possível retirar as pessoas que estavam dentro. Laudo e fotos da perícia no local mostram Ranúsia morta perto do carro, tendo, ao fundo, um Volkswagen incendiado, onde estavam carbonizados Ramires,
Vitorino e Almir.
No entanto, a investigação sobre o caso realizada pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) considerou que a versão oficial não se sustentava após o exame das provas anexadas ao processo.

[1] As informações dessa descrição foram retiradas do livro: “Luta: Substantivo Feminino”. Nós do Violeta Parra temos o Livro em PDF, se houver interesse basta pedir-nos.

[2] Em 1967, o grupo hegemônico no PCB consumou a expulsão de dirigentes contestadores da linha que vinha sendo adotada pelo partido. Entre eles, os futuros fundadores do PCBR, como Mário Alves (assassinado sob torturas, em janeiro de 1970, no Quartel do Exército, na rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro), Apolônio de Carvalho, Jacob Gorender e Jover Telles. A proposta geral dos dissidentes consistia em repudiar alianças com setores da burguesia brasileira e estabelecer um governo popular revolucionário. Para tanto, o PCBR considerava estratégica a luta armada. A tática geral, entretanto, procurava um equilíbrio entre o militarismo e o pacifismo característico do PCB, o que provocou fortes tensões internas e a saída de militantes. A pressão desses setores e o acirramento da repressão obrigaram o PCBR a reforçar a execução de operações para a obtenção de fundos. Em junho de 1970, a linha do partido foi reorientada para uma prática idêntica a dos grupos que constituíram a chamada “Frente Armada”, entrando na rotina de realizar ações apenas para angariar recursos. Em dezembro de 1972 e outubro de 1973, no Rio de Janeiro, membros do 3o Comitê Central foram chacinados pelos órgãos de repressão. (Informações retiradas do livro: “Luta, Substantivo Feminino”)

4 comentários:

  1. Em 13 de dezembro de 2016, o Reitor da UFPE Anísio Brasileiro reconhece Ranusia Alves Rodrigues como aluna do curso de graduação em Enfermagem da UFPE de 1966 a 1968, essa reivindicação feita através do atual Diretório Acadêmico de Enfermagem que leva o nome de Ranusia Alves -DARA - em suas pautas durante a ocupação de 40 dias do departamento de Enfermagem da UFPE mobilização contra a PEC 55. Ranusia Alves foi rematriculada na UFPE e passa a ser reconhecida como ex aluna. Um feito histórico que contou com a participação de amigos e colegas de turma e do DA da época de Ranusia, além de sua sobrinha representando os seus familiares. Hoje a chamada por ela é assim respondida. Ranusia Alves? PRESENTE!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Procuro informação!!! sou neta de Ranúsia Alves, legítima. Eu junto c minha mãe vanusia, não sabíamos dessa história! contato: 985939444

      Excluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Procuro informações sou neto de Ranuzia! Informações 81 9 98078461

    ResponderExcluir